escrita

Querido, mudei de vida

Quando somos pequeninos e nos perguntam “O que queres ser quando fores grande?” temos a resposta na ponta da língua. Quando somos “grandes” parece que não é assim tão fácil responder. A pergunta nem está bem colocada… Ou talvez esteja e somos nós que não a interpretamos bem, pois a resposta raramente se trata do que queremos ser, mas sim qual a profissão que queremos seguir. E rimos das respostas dos pequeninos: “astronauta”, “cantor”, “bailarina”, “futebolista”. São tantas as opções! E achamos ainda mais piada quando na semana seguinte as respostas já são outras – “Então querias ser arquiteto e agora já queres ser dentista?” – como se tivéssemos de nos decidir ali, como se não fosse comum termos mais do que um interesse, mais do que uma ocupação ou termos jeito para mais do que uma coisa. Já no 9º ano, escolher a área de estudos a seguir pode parecer o fim do mundo, para não falar da escolha assustadora do curso a seguir posteriormente. Parece que as opções que ali fizermos serão decisivas para o que vamos “ser” para o resto das nossas vidas. Serão?

A ideia de termos o mesmo trabalho durante 40 anos ficou no passado. Mais do que nunca, as pessoas saltam de emprego várias vezes ao longo das suas carreiras. De acordo com o Bureau Labor Statistics, em média, um Baby Boomer (1957 – 1964) percorre 12 trabalhos ao longo da sua vida[1], com uma permanência média de cerca de quatro anos por emprego[2]. Já 91% dos Millenials (1980 – 1996) esperam permanecer no mesmo emprego por menos de três anos, o que significa que terão entre 15 a 20 empregos ao longo das suas vidas[3] – vindo-se a confirmar, num relatório da Gallup, que 60% dos Millenials diziam estar abertos a uma nova oportunidade de trabalho[4].

Falta saber o que está por trás destas alterações no mercado de trabalho e quais as motivações para a mudança de carreira. São várias as razões possíveis: pela procura de novas e melhores oportunidades, de um novo desafio, por uma paixão, realização ou, claro, por necessidade. Vejamos do ponto de vista das pessoas. Os Millenials caracterizam-se por serem inquietos, por terem um espírito nómada e por serem ambiciosos, mais do que as gerações anteriores. Além disso a lealdade entre empregadores e empregados parece estar em declínio desde a Grande Recessão de 2007[5].

A fortiori, parece que as pessoas se aperceberam de que nada é garantido, nem mesmo uma carreira outrora estável, e que nem sempre o dinheiro compensa a infelicidade. Por esta razão, mais do que emprego, queremos encontrar o nosso propósito. Acha difícil? Sílvia, Carolina, Andreia e Maria João são exemplos de mulheres cuja vida deu uma volta.

Sílvia Taveira de Almeida, 53 anos, criou a Glow Chef, porque queria comer de maneira saudável. Não estudou alimentação, nutrição nem cozinha. A sua formação académica é na área da economia e da gestão. Passou por várias empresas, onde exerceu cargos de chefia, mas sempre sentiu um vazio, como se faltasse qualquer coisa.

Carolina Monteverde, 44 anos, estudou Economia no ISEG e trabalhou na banca durante 17 anos. Ao atingir o topo da carreira sentiu que estava a definhar. Decidiu voltar à escola e formar-se em filmagens e edição de vídeo. Hoje é videógrafa e fundadora da Smile Stories, que pretende contar histórias que perpetuam sorrisos.

Andreia Peres, 34 anos, começou a sua carreira como arquiteta, profissão que a deixava extremamente ansiosa e desmotivada. Viveu fora de Portugal desde 2013 e foi na China que deixou essa vida para trás. Após muita reflexão, encontrou paz e felicidade no Kundalini Yoga e, mais importante, encontrou-se a si própria.

Maria João d’ Eça, 28 anos, licenciou-se em Enfermagem. Ao fim de dois anos a trabalhar sentia que não queria estar mais ali. Candidatou-se ao ISCSP, onde hoje é finalista de Ciências da Comunicação. Apesar de admitir que não tem todas as respostas, diz que o melhor que podemos fazer é aceitar isso mesmo e estar abertos a ideias novas.

JV


Recursos e Fontes

[1] U.S. Bureau of Labor Statistics (2019). “Number of Jobs, Labor Market Experience, and Earnings Growth: Results From a National Longitudinal Survey.” Acedido a 02/03/2021.

[2] U.S. Bureau of Labor Statistics (2020). “Employee Tenure Summary.” Acedido a 02/03/2021.

[3] Future Workplace (2012). “Multiple Generations @ Work Survey”. Acedido a 02/03/2021.

[4] Gallup (2016). “How Millenials Want to Work and Live”. Acedido a 02/03/2021.

[5] Berger (2016). “Will This Year’s College Grads Job-Hop More Than Previous Grads?”. Acedido a 10/03/2021.


Standard